28/04/20



Ainda não fiz anos mas prevejo o dia D. O dia em que vou fazer 24 anos. Lembro-me tão bem de ser pequenina e de me sentir uma pessoa velha, com um manto negro sobre mim cada vez que sorria. Nunca me esquecia que tinha de estar triste, que não era merecedora de festejar. Lembro-me como se fosse ontem que quando todos festejavam, era quando eu me afastava e chorava. Penso que foi essa a forma que a sociedade e logo depois a realidade me ensinou a fazer o luto. Eu eu era criança, tornei-me adolescente e mais do que vestida de preto, vivi essa atmosfera. Não festejei os anos sem ser cá em casa por vontade dos meus pais até há sensivelmente 2 anos. Eu simplesmente não dizia às pessoas que fazia anos, não transparecia a alegria, escondia-a ou entristecia-me, quando no fundo, eu gosto. Gosto tanto de estar com amigos, de celebrar a amizade, de expressões de amor, como não poderia gostar de fazer anos? Este manto negro que outrora sentira foi desaparecendo e o dia que considerava desprezível tornou-se trágico, proporcionalmente à vontade que eu tinha de festejá-lo. Foi a morte do meu avô na meia noite e o funeral no próprio dia, o dia que era passado na aldeia onde não se passava rigorosamente nada, o dia sem amigos, o dia em que por mais que eu quisesse, algo de mal dava-me os parabéns. Até conhecer o Guilherme, que me trouxe alento neste dia e nos outros e, apesar de ser feliz, há sempre algo que me falta. Creio que me faltará sempre mas ao menos já não me sinto velha e sorrio sem pesar. Ah, e o dia D só podia ser um dia esperado... eu digo que tem a ver com o nome David mas sou suspeita.

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