03/11/21

 Ser complexo, diverso. 

Apenas ser o universo que trago nas pontas arredondadas do coração. 

Ir sem medo do piso molhado que escorrega a abrir. 

Olhar para dentro com um sorriso. 

Enfim, ser. 

Libertar-me de tudo a que me almejo. 

Por fim escorregar de uma das pontas arredondadas do coração até à sua ponta sul e dali esticá-lo até ao chão,

tornando-se gigante de tão alta que eu estava.

21/11/20

 


É só a mim que assola um cansaço desmedido? Um cansaço que teima pela persistência no que está por vir e que é dormente de preguiça pelo presente. Tudo me cansa. Cansa-me o presente. Será que é isto ser adulto? Será que tenho Covid? A frieza pelo sentimento do outro como nunca. A indiferença pela dor na sua generalidade. Um calhau com olhos que só pensa no que é belo e desperdiça todas as oportunidades de ser mais do que isso. Hoje está um dia belo, de sol... quero ir passear com o Tyson à serra. Será que vou? Esta vontade que é paralela e não perpendicular a cada ação. Motivação, precisa-se. Procurá-la em mim porque ela deve estar aqui. Eu existo no presente. O meu presente influencia o meu futuro. Repito comigo mesma estas palavras e espero vesti-las ainda hoje.

28/04/20



Ainda não fiz anos mas prevejo o dia D. O dia em que vou fazer 24 anos. Lembro-me tão bem de ser pequenina e de me sentir uma pessoa velha, com um manto negro sobre mim cada vez que sorria. Nunca me esquecia que tinha de estar triste, que não era merecedora de festejar. Lembro-me como se fosse ontem que quando todos festejavam, era quando eu me afastava e chorava. Penso que foi essa a forma que a sociedade e logo depois a realidade me ensinou a fazer o luto. Eu eu era criança, tornei-me adolescente e mais do que vestida de preto, vivi essa atmosfera. Não festejei os anos sem ser cá em casa por vontade dos meus pais até há sensivelmente 2 anos. Eu simplesmente não dizia às pessoas que fazia anos, não transparecia a alegria, escondia-a ou entristecia-me, quando no fundo, eu gosto. Gosto tanto de estar com amigos, de celebrar a amizade, de expressões de amor, como não poderia gostar de fazer anos? Este manto negro que outrora sentira foi desaparecendo e o dia que considerava desprezível tornou-se trágico, proporcionalmente à vontade que eu tinha de festejá-lo. Foi a morte do meu avô na meia noite e o funeral no próprio dia, o dia que era passado na aldeia onde não se passava rigorosamente nada, o dia sem amigos, o dia em que por mais que eu quisesse, algo de mal dava-me os parabéns. Até conhecer o Guilherme, que me trouxe alento neste dia e nos outros e, apesar de ser feliz, há sempre algo que me falta. Creio que me faltará sempre mas ao menos já não me sinto velha e sorrio sem pesar. Ah, e o dia D só podia ser um dia esperado... eu digo que tem a ver com o nome David mas sou suspeita.

12/02/20

É assim tão normal? O amor que me fascina, para além do namoro. O amor que me ampara, mima e protege com os mesmos braços à mais de 23 anos. Procurei-te com intenção de falar Dele (deste amor que para mim é sagrado, e a minha dádiva) e deparei-me com este último texto em rascunho: "Os meus pais são o conto de fadas mais bonito que li, a verdadeira definição de perfeição, a ilha encontrada depois do naufrágio que é a vida. Eles são a sensação de quando aparece uma caixinha de música a brotar uma bailarina que dança com o som mais bonito que os meus ouvidos se encantam. Eles são os primeiros raios de sol da manhã, o céu pintado a meio da tarde, e estrelado à noite. O pequeno almoço em que acordo tarde, o almoço risonho, e o jantar quentinho. O amor tem o nome deles, Lurdes e Manuel. O poema e a prosa mais bem escrita, o meu par predilecto, a minha felicidade. Eu amo-os com o coração todo, juntamente com o mano David e o mano Pedro." E, a magia é que, desde que conheci o amor do namoro, e agradeço em segredo eternamente ao meu Amor... que aprecio estes meus amores grandiosos, dignos de uma epopeia, e que a existência Deles é a extensão do meu ser, é a ampliação da minha alma, a resposta para que tudo faça sentido.

13/01/20


- Foda-se tira isso. Que gay. Já tiraste essa pirosice?
Engoli a seco como que a aguentar uma dor física. A memória de elefante, tão gigante, que me assolou naquele momento, reproduziu um filme repetido, sendo que era a primeira vez. Para tudo há esta vez, como se a tudo e a nada ela pertencesse, como se a própria existência a exigisse para, de alguma forma, nos fazer questionar sobre o chão que pisamos, o céu que tocamos, o coração que nos bate e os lábios que beijamos. Eu pensei que de brincadeira se tratasse, mas a brincadeira não trata maluqueiras destas. Acordei uma vez para a realidade e outra que subitamente me fez levantar do conforto da cama que nos fiz.

21/11/19

Saber

O Saber. O saber tornou-se um modo naturalmente ágil e complexo de agir. O saber de quem sempre quis ser e o era sem saber. Hoje olho para trás e finalmente entendo que a acção de estar acarreta em si todas as formas e mais outras tantas, e quando estas não são moldáveis por não serem identificáveis no olhar ou no falar, todo o saber perde o sentido. Tenho um momento de lucidez quando me apetece escrever, ou apetece-me escrever em consonância com toda a lucidez que sinto neste momento. Muitas vezes esqueço-o, o amor-próprio ou a desilusão do sentir, escorrega-me entre os dedos, a minha lucidez, todas estas palavras, todos estes caminhos, atalhos, formas de ser e de viver. São tão complexos para mim. No entanto, sou. Não o escrevo, mas estou. Estou aqui. Sou de mim. E preciso, cada vez mais, escolher as palavras que ouso falar-me, porque são cada vez menos do que mereço ouvir, mais outras quantas de outros autores que merecem não ser ouvidas. De alguma forma e de outras tantas.


17/12/15

sem chão estou. mergulho sobre tudo e flutuo, por mais que eu queira, não consigo ser real. Se não realizo.. como sem me perder me perco. porque é que me torno em tudo aquilo que não quero. Por tentar me afogo. preferia não tentar, preferia não vir à tona, preferia morrer às vezes. sou a desilusão do mundo e a ilusão dele.. não mereço o ar que respiro. E eles pensam porque é que fui a única a viver e a única que não morri. e eu também não sei.