19/01/12
Tão cedo que parecia que o dia ainda não houvera começado, sentia-me num leque de pestanas cerrado, num sono inquieto e deslocado, como se engolida simetricamente num colchão que me encolhia na linha vertical do corpo. Como quando é preciso recuar para continuar a selar em frente, resguardava-me no estragar de um fecho. O saber que te veria, remexia os orgãos e gelava-me as pontas dos dedos. Um aperto de ansiedade, um falhar de coração, um suster de ar que expelia de esperar. Procuravas-me. Procurava-te no chão gasto das coisas e pessoas e ruas que nunca se cansavam de ali estar mas que não te encontravam. Estavas igual quando dei por ti. Estás igual. Falámos sem horas e traíamo-las com cigarros sucessivos. Ríamos. Observavas as pessoas e ouvia-te, e seguia-te com os olhos, e ouvias-me. O saber dos teus namoriscos que tinham pontas soltas que agarravam o nós que já foi nosso. Laços. E ríamos porque sabíamos. E confrontavas-me no teu jeito frontal, asas que estavam há muito caídas e que me pesavam, num compasso sorridente ao afugentar o sorriso, a brincar com o isqueiro que ficaria sem luz no friccionar da alma e esvaziar de memórias vivas que matam em excesso. Quando se fala muito, sempre se descansa no amor à sombra. E intervalavas conversas fiadas com conversas por um fio e eu não queria falar-te, então do amor, o amor é grande demais para se falar. Ao confessares a invulgaridade que os teus olhos têm de se darem aos seus, pousaste-os nos meus e perguntaste-me se eu te amei. E baixei a cabeça num pulsar forte do coração. O silêncio é grande e o amor cabe nele. O nosso amor coube sempre no silêncio. Trocámos os cigarros pelas horas e estava num pé de ir e noutro maior de ficar. Ainda arranjámos tempo de ir a uma livraria na estação, Duas Iguais de Cíntia Moscovich, em vão ameaçaste-me comprá-lo sem o despires. E fui. A descer lentamente as escadas rolantes, via-te cada vez mais longe e eu cada vez mais pequena.. e sabes, foi nessa mesma altura que eu percebi que o ter-te por perto tornaria tudo maior e voltei para trás, para o meu norte numa luta contra às escadas, numa luta contra medos que desde então me tinham tornado sentimentos por sentir. Gritei o teu nome duas vezes, para ti corria e existi ao achares-me. Se mo quiseres comprar e sorriste. Fomos juntas até ao táxi que te levaria ao aeroporto com o livro nas minhas mãos. Viste-lhe as roupas. Duas iguais, para mim éramos nós.
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4 comentários:
que lindo*
Cada vez melhor melhor, cada vez mais amor
é amor em todas as letras e sorrisos que deixei escapar a cada pausa de vírgula. encantador.
és cada vez mais bela. és capaz vez uma mão cheia de amor.
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