Com o coração da alma fora do corpo, agarradas a tudo o que era nosso, começaste a chorar. Muito.
- Que se passa?
- Sara, tu nunca me podes deixar. Promete. Eu não consigo sem ti.
Não me recordo bem se foram estas as palavras exactas e escrevo-as na dúvida, quase certeza, da memória. Mas verti. Um pouco. Não é de mim transbordar mas naufraguei por dentro quando percebi que tudo o que era meu era dela também. Tudo. Agarrei-a com força junto de mim como se me agarrasse a mim mesma. E em silêncio fazíamos pressão uma sobre a outra como se quiséssemos pertencer-nos para sempre. E lembrei-me agora, quando estavas em frente a mim, separadas por um muro de coisas sem interesse, tenho saudades tuas- dizias, mas eu estou mesmo aqui, Oh mas estás longe- e metias-te em cima do que quer que fosse e abraçavas-me. Ou quando te maravas quando alguém se metia comigo. As noites em que fugia para a tua cama. Quando me escrevias cartas nas raras alturas em que eu não estava perto de ti. Quando te mostrei que o mundo era bonito. Éramos e talvez ainda sejamos o oposto uma da outra mas fomos juntas o sinónimo de amor e até separadas. Separadas quebradas. Separadas juntas. E não há ninguém, ninguém que nos possa tirar isso. Sempre que nos vejo sorriu muito. Tenho uma caixinha no canto do coração cheia de coisas tuas, tantas que ocupam o canto e o coração quase todo. Abriste-me os olhos ao mundo e libertaste-me. Fizeste-me conhecer pedaços de mim e de mim muitos pedaços se tornaram teus ou obra tua. É só contigo que eu vivo o verdadeiro perigo, tão extremo e tão feliz. Passeios fora do passeio, sabes? Tens uma alma bonita, não te percas em lugares sinuosos, sabes que te vou procurar.. Tenho saudades nossas e volta depressa para irmos arruaçar as duas pela capital.

Para sempre, tua 56