desculpa.

O pior de conhecer pessoas novas são as perguntas por conhecer. As pessoas não percebem que quanto mais perguntas menos se parece saber. "Tens irmãos?" Dói tanto quando me perguntam por ti sem saberem quem és. Dói-me tanto dizer que não com a cabeça e ouvir teorias de filhos únicos e histórias de irmãs orgulhosas sabendo que tenho tanto para contar. Fingir que não te conheço, que não és mais meu irmão, é como se estivesse a apagar a tua própria existência e é tão, tão mil facadas no estômago. Desculpa. Não consigo dizer que foste, não suporto olhá-los nos olhos e falarem pena em tom meigo comigo como se quem estivesse morta fosse eu. Podre. Parte do meu avesso apodrece quando o coração abusa e é remexido. "Não, não tenho" e sussurro um "sim" de silêncio baixinho directo a ti. Porque se tu me tens, eu ainda te tenho em mim. E custa saber que sou eu que te mato quando o que mais quero é sentir-te vivo. Desculpa, desculpa muitas vezes, mas não consigo dizê-lo em voz alta. E ninguém mais sabe que és tu a morrer e eu a viver de saudades tuas, só nós.