Nesta encruzilhada onde me encontro, que caminho escolherei? O poeta diria:
Ninguém me diga: "vem por aqui".
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
(Que raiva!)
(Somos donos dos nossos passos e isso é bom, não? É o mínimo que podemos possuir: os nossos passos, as nossas opções, as nossas escolhas, tudo isso é apenas nosso, certo?)
É aterradora esta liberdade que nos escraviza, que nos prende a uma responsabilidade que, por vezes, não queremos ou não conseguimos assumir.
(Ah, não! Lá vem a mesma conversa de sempre. Agora não, deixe-me em paz. Haverá por aí alguém que tenha um mp3, ipod?!)
É difícil descrever o que sentimos quando alguém nos desilude. A verdade é que só nos desiludimos com aquelas pessoas por quem sentimos afecto, admiração ou qualquer tipo de sentimento bom. Os outros, os que não odiamos, os que não nos enfurecem não são nada na nossa vida, porque são apenas um nome, apenas um número, apenas mais um-qualquer-coisa. Os que nos fazem sofrer estão, sabe-se lá porquê ou durante quanto tempo, agarrados à nossa pele, vivem connosco mesmo na ausência e acompanham-nos diariamente.
Eu conheço-a há pouco tempo, ainda que tenha a sensação que a conheço de um tempo que não se mede em anos, meses, dias. Encontrei-a quando mergulhei no seu olhar perdido. Nessa altura vi a nostalgia, reconheci as cicatrizes de feridas antigas não totalmente saradas, percebi que tinha sido atropelada pela vida prematuramente. No entanto (e isso era espantoso!), tantos sorrisos, tanta alegria, tantas gargalhadas sonoras. Camuflagem de uma tristeza prestes a explodir. Era impossível reprimir mais aquela angústia que queria transbordar em lágrimas, em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum. Aquela venha angústia. Aquele «mal-estar a fazer-lhe pregas na alma». Mas depois havia os limites.
(Limites? Que limites? Há limites? Para quê? Para as regras do saber fazer e do saber estar? E limites para a minha dor, para o meu sofrimento alguém os conhece?)
Havia também a vertigem do abismo ali tão próximo e quando caminhamos na direcção desse abismo acontece tudo muito rapidamente.
(Rapidamente? Essa é boa. E o desespero escondido a sete chaves durante anos? A ânsia devastadora de libertar esse desespero, alguém sabe quanto tempo demorou a chegar?)
A certa altura, ela era um meteorito em rota de colisão consigo mesma, a curva da sua vida começava a descrever um círculo perigosamente descendente, destrutivo. Tristeza. Raiva. Angústia. Desilusão. A vida com que sonhamos é tão diferente da que vivemos. Nem tudo acontece como planeamos e só nessas alturas percebemos que, se não podemos mudar o ontem e o agora, talvez possamos, num rasgo de sensatez e inteligência, alterar o futuro.
(Disparatado, no mínimo! Como é que alguém modifica o que ainda está por vir? Um beco, estou num beco e à minha frente o vazio. O ontem, foi-se e o hoje está prestes a tornar-se passado, nada a fazer. É tarde, não quero saber. Só quero sair DAQUI.)
Repito: É difícil descrever o que sentimos quando alguém nos desilude. A verdade é que só nos desiludimos com aquelas pessoas por quem sentimos afecto, admiração ou qualquer tipo de sentimento bom. As pessoas que nos magoam são, por vezes, as mesmas que nos ajudam a descer aos infernos de Dante. Dizem que quem faz essa descida infernal regressa ao mundo dos vivos muito mais forte, preparado para enfrentar batalhas e sair vitorioso das guerras. De súbito, ocorre-me a imagem de Fénix, essa ave fantástica que, segundo os gregos, após a morte, renascia das cinzas com a sua plumagem ainda mais bonita e sedosa. Sara, tu és bela e forte como a Fénix. Por isso, aproveita ao máximo todos os dias da tua vida, mas aprende com tudo o que viveres em cada um deles. O Homem é feito de misérias e grandezas, é um misto de Deus e do Diabo e é esta duplicidade que lhe dá não só o direito de errar mas também a oportunidade para aperfeiçoar a essência do seu ser. Por isso,
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis
(Já terminou o discurso? Ainda não decidi o que fazer com este papel, com estas palavras, com esta «seca» (?) Talvez lho diga quando tomar uma decisão.. ou talvez não.)
Paula Ângelo
Um dia, talvez lhe conte o quanto significou para mim, o seu discurso, ou melhor, a sua «seca».
Obrigada.
Obrigada.

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