Naíve


Se eles se amam deveriam ficar juntos. Se ele a magoa, ela tem de o magoar, para ficarem quites e fazerem as pazes. Se ele a quer, ele agarra-a. Se a distância é muita, o amor atinge quilómetros infinitos. O dia só acaba quando quiserem. O sol nasce, quando virem as estrelas. Ela reconhece-o a milhas, larga tudo. Descobre que correu em direcção à bagagem e que nada largou. Eles deitam-se no meio da estrada. Ela espeta-lhe com um gelado na cara e delicia-se nele. Desafiam-se. Ela discute. Ele discute. Eles beijam-se. Ela põe-se às cavalitas dele porque não consegue ver. Ele finge que a deixa cair. Riem-se. Ela empurra-o para o rio. Ele agarra-a. Ela deixa-se ir com ele. Passam a tarde naquilo. Ela pede em segredo que o dia não acabe. Ele acorda mais cedo. Ele lança pedrinhas à janela. Quer que vejam o nascer-do-sol juntos. Ela sai de casa silenciosa, como saiu na noite anterior para ver as estrelas. Ela fá-lo andar à chuva. Ele agarra-a como um saco de batatas e beija-a no canto escondido e abrigado mais próximo. Ele acha-a criança. Ele gosta dela. Ela cega-o com as suas mãos à espera que ele adivinhe quem é. Ele não adivinha. Ele sabe. Ele vive longe. Ela espera-o. Ele viaja à socapa dentro de um camião até lá. "Surpresa.". "Mas como?". É louco. Está louco. Louco por amor. Ele ensina-a a jogar à sueca. Ela quer jogar ao peixinho. Ele goza com ela, cede e pede-lhe o Ás de copas. Ela dá-lhe o Ás de copas. Querem fugir. Juntos. E depois perdem-se. Apaixonam-se. Reencontram-se. Encaram-se com embaraço. Eles lembram-se. Depois fogem no sentido oposto ao do coração. Não faz sentido. Já fez. É ridículo pensar que sempre faria, e eu pensei.
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