02/07/10

Volta para ficar, mas volta

Deixou de fazer sentido esta ância, vejo o nosso passado com a mesma rapidez que os ponteiros do relógio parecem correr no sentido inverso. Não tropeçam. Estão a entrar em rota de colisão na maré de encanto que surfavas. Cortei relações com relógios de parede, as minhas paredes já não reconhecem um vestigio de calor teu, relógios digitais em que a tua ausência torna-os inúteis consumindo-lhes energia. Tudo pára quando não estás e não há maneira de estares sem ele avançar. Tic, tac, tic, tac. Volta para ficar, mas volta. Não quero dar a vitória à distância aparentemente descabida que me faz querer-te tanto. Quero-te de sem querer, não há maneira de vires? Volta de propósito, porra. Vem juntar propositadamente todos os pedaços de amor, de desejo que sobreviveram ao tiroteio de quilómetros que nos cegaram. Quanto mais distante, mais longe de ti me sinto. Vem, vem para perto de mim. Vem embalar-me no sussurro da tua voz arrepiante junto ao meu pescoço, do calor da tua respiração acelerada, da tentação tentadora que nos desejamos mutuamente. Volta para ficar, mas volta. Traz o que levas-te contigo. Não te esqueças do que é nosso, algures por aí. Num tempo em que os relógios são a maratona de ponteiros que correm no sentido inverso, no tropeçar das horas vagas e inexistentes sem ti, os tempos mortos são vividos assim, na saudade que me mata.

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