
Não esperes por mim hoje à noite, deita-te no meu lado da cama, de forma a sentires o último vestígio do perfume fresco da minha almofada. Não te culpes. Vou trazer comigo a culpa até o arrependimento dar cabo de mim e pedir o tempo de volta. O tempo que eu nos roubei. O tempo que era nosso por direito ao amor que sinto. Que tu sentes. Que ambos sentimos. E estou desejosa que a porta se abra, que por lapso te esqueças das chaves e toques à campainha. Que me obrigues em segredo a machucar esta carta, antes de seres tu a fazê-lo. Lembras-te como nos conhecemos? "E o amor, sabes o que é?"-"Também não". Sei, agora sim, é ter saudades tuas quando nada nos separa, é estar ao teu lado e não ter medo de nada senão de te perder. É desejar-te tanto quanto eu te desejo, ir da ponta da cama à cabeceira vezes repetidas, até sentir o calor do teu corpo e adormecer recaída de sonhos. Não sei o que me leva a gostar de ti, a surpresa de seres tu, faz-me ficar cada vez mais apaixonada. Quantas vezes arrebatas a escala e assemelhas o meu corpo ao teu, de forma a que o desejo nos sacie. Vivemos um conto de fadas e afinal, a magia sempre existe. Tenho que ir. Tenho mas não quero. Também não quero parar de escrever, visto que as palavras são insuficientes e suficientemente presentes. Acima de tudo, nunca serão actos. O tempo fora de ti é escravizante e todo nele amargo. Tu trazes magia, és magia. "Mas porquê?", sim eu sei, não faz sentido. Aliás, eu nunca te fiz sentido e, segundo tu, era o que me fazia destacar de qualquer outra mulher. E as vezes em que o dia estava cansado e os meus pés insistiam descanso? Curavas-me com um beijo e adormecia, com os teus dedos entreabertos passando em cada fio de cabelo meu. E sentia o teu beijo de criança, o beijo que se dá com a finalidade de finalizar a sua presença no mundo real. Sabias que estava a teu lado, na realidade do submundo fantástico. Que estou a fazer eu? És a minha ponte. A minha passadeira. Vou atropelar-me assim, sem ti. É suicídio. Toca à campainha por favor. Toca. Foste o melhor e o pior, sonho e pesadelo que eu vivi. És o meu amor-perfeito, despido de incertezas, com todos os defeitos que possuís. Não sei quando voltarei, talvez quando estiver morta o suficiente. Vou pensar em ti todos os segundos da minha vida, até que os ponteiros se cansem e te encontre por caminhos cruzados. Vá. Não oiço, toca..
Para sempre, tua.
Amo-te
P.S:"Por vezes temos que nos afastar daqueles que amamos. Não por os amarmos pouco, mas talvez por os amarmos demais."
Sem comentários:
Enviar um comentário