11/04/10

travel liberty.

«Não queria». Minto. «Se pudesse, ficava». Minto. «ó, por favor, não é um adeus definitivo». Será? Chega de mentiras, o melhor é sair porta fora, tenho o meu Cadillac cubano, com a bagageira vazia à espera, pronto a fintar o destino. Não param de fazer perguntas e já cheguei ao limite, agora ou serão inaceitáveis, ou rápidas, ou tropeçarei sobre elas e vou desejar nunca ter aberto a boca. Mordi o lábio, abracei-os a todos e desconfio que tenham dado pela porta se fechar. Ao longe ouvi a porta a abrir de rompante, à espera de me encontrarem. - Já tinha partido e tudo o que fui, tudo o que dei, inclusive tudo o que recebi, manter-se-ia intacto em Smalltown e apenas em Smalltown. Despedi-me com um abraço, porque talvez não houvesse próximo e não suportaria viajar sem o último vestígio de calor que sentirei de cada um deles. Não é que seja um elemento indispensável, visto que passava maior parte do meu tempo comigo mesma e era curto o espaço da minha agenda, para pessoas que nela se infiltravam consequentemente, mas não esperem por mim. - Não contes comigo, Dennis, tomarei o meu café da manhã noutro bar qualquer, quanto a ti Philippe, não esperes pelo sorriso que te relembrava quando te esquecias dele em casa, Vivian os teus binóculos só verão uma casa vazia e aposto que não haverá um ser de Smalltown a desconhecer a minha partida e a ouvir um risco riscado, onde não faltarão as palavras "estranha, esquisita" e pelo meio ainda suporás que não sou humana e começarás com as tuas loucas teorias sem fim. Íris, Susan, Raven, Eliza e Deise já não terão que saltar pela minha janela e virar o meu armário do avesso, para vestir algo decente para as noites das raparigas e fazer com que o meu cabelo desgrenhado se despeça de vez dos seus jeitos, era inevitável mas apreciava o esforço. Aprendi com vocês a fingir que sou feliz. Mamã, papá, a borboleta voou. Paul, menos uma casa, menos cartas com que terás de te preocupar, Lucy, sei que o meu dólar de todos os dias fazia diferença, se voltar, voltarei para te buscar. Jack, só espero um dia que me perdoes, pela ausência de notícias e por estragar todos os teus planos. Sabes que sempre odiei planos e listas do que estou à espera de fazer na semana, ou mês seguinte, não faz sentido visto que o dia de manhã ainda nem começou e pode vir a nunca começar para um de nós. - É uma sensação extrema sentir os meus longos e desgrenhados cabelos a dançarem ao som do ar fresco. Creio que se soubessem da existência de Smalltown teria uma multidão de polícias a perseguirem-me, visto que já nem sei a quantas ando. O meu rumo é desconhecido e como me manterei lá uma incógnita, mas só o sabor do risco, põe-me água na boca. Por favor, deixa-me saciá-la. Finalmente, não tenho ninguém que me impeça, não tenho qualquer tipo de muro para escalar, se me taparem a boca, mordo. A liberdade tornou-se em algo prioritário na minha vida e essa, só morta ma tiravam. Quero conhecer e inalar o perfume de cada lugar onde passe, viajar uma, duas e mais outras vezes, sempre quis ser nómada, daquelas dançarinas ou trapezistas, grandes musas. Quero fotografar cada lugar, com a minha companheira, máquina velha mas com história. Nela já passaram as mais diversas fotografias, contrastes umas das outras. Desejarei os bons dias a quem quer que passe por mim, e vou oferecer sorrisos, nem que seja um por dia. Não faltará a companhia do meu doce pôr do sol e a música, a música que reflecte nitidamente o meu estado de espírito. No fundo, não faltará nada, porque à tona tenho tudo. Liberdade. A palavra liberdade não contém algo senão o que é, liberdade. Com ela, posso fazer tudo o que quiser, sou livre. A experiência é a minha escola, e vou tornar-me aprendiz, vá para onde quer que for. Não tens saudades de ser livre e seguir o teu coração?

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